8 de janeiro de 2011

Nem sempre a lápis (119)

Passei uns dias no Monte Alto, em casa da Nico, sem nostalgias nem mágoas; é outra casa, a Sul, em Asilah também chove. Escrevo à mesa que mandei fazer para o atelier, ainda convicto de que acertaria uma, entre tantas aldrabices feitas durante as obras; mas até o desenho foi desrespeitado e as pranchas casadas do tampo substituídas pela fiabilidade do pinho colado, informaram-me com a criança nos braços e a factura na mão. Durante os cinco anos que o ocupei, soube sempre como este espaço, tão desejado e ponderado, nunca conseguiu ser intérprete do que procurava e persigo. Viria a encontrá-lo na casa onde vivo, no meu retiro, e no Pátio de La Luna, em Asilah, o ano passado. Quando cheguei três anos depois, fui recebido pela azáfama das limpezas de uma casa de campo ao fim-de-semana e, um pouco mais tarde e sem o esperar, pela elegância e a imponência de brincar do moliceiro, no parapeito da janela. A mesa, esta mesa, estava ocupada com livros retirados de caixotes que acabei por não levar e poucos irei levar. Apercebi-me de que, assim como repeti livros desde que voltei a viver em Carnaxide, não estou para repetir os que (ainda) não encontrei e fico mais descansado sabendo que estão aqui, os que trouxe. Olho lá para fora, bem me apetecia ler Ruy Duarte de Carvalho, procurar pastores banidos pelos muros dos novos proprietários do que era campo de pasto para o olhar. Acendo a salamandra, sentado num sofá que era de Carnaxide; olho para os quadros, meus e de outros, para a velha cadeira de tabua ocupada pelo casal que resta da matilha, para os livros nas prateleiras, olho para a cor com que a Nico iluminou um espaço sombrio por onde passei e sinto-me bem. É diferente; vai saber melhor chegar a casa.

2 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

parece deliciosamente aconchegante.


depois, só mesmo a caminha com os edredons fofos, os lençóis ásperos de tão limpos e a almofada de penas...

fallorca disse...

Pantera... sempre atenta a grutas, covis ;)