14 de outubro de 2012

Bom dia, um autor desloca-se a Coimbra



é interceptado por pescadas do mal
para ouvir coisas destas
sitiado numa livraria
a propósito disto
[não se lê? calma...]

«Digamos assim: eu nunca fui a Tânger mas já fui a casa do Jorge e da Nico. Comi maravilhosamente bem e acho que até cheirava a “frutos secos e a polvo assado”. Sei de ciganos e distinguir ervilhas-de-estalo de hortênsias, embora me falhe a memória para granitos e gadanhas. Quanto a portos de pesca, sobretudo aqueles “sem indicação que lhe[s] denuncie o anonimato”, podem contar comigo. O vento Sueste conhece-me. Também li Paul Bowles, o que sempre ajuda.
“O livro do fim” é um livro escrito pelo Jorge Fallorca. Um título vale o que vale. Os poetas são uns grandes batoteiros e é por isso que Platão não gostava deles. Platão era um homem muito sério, um bolchevique, à procura da ordem do mundo. Ora o mundo, sabemo-lo hoje, é uma grandessíssima desordem, mesmo a ser um facto que Deus não joga aos dados: “esta casa desconhece a rectidão das esquadrias e não há uma única parede que se possa dizer plana”.
Quanto aos livros, valerão – ou não – tanto como um par de sandálias compradas na Medina. Experimentem calçar sapatos apertados e logo me dirão se não é terrível.
Numa frase: melhor que ser poeta, é ser poesia.
O que me dizes, Jorge?
Ana Cristina Leonardo»