27 de abril de 2013

Nem sempre a lápis (362)

até Jajouka
(2006)
22. Alguns velhos barcos de madeira – os poucos que não agonizam como peças decorativas nos relvados das villas e varados no shopping da Guia – voltaram a fazer-se à beira-mar com um letreiro esgalhado à trincha numa chapa de contraplacado: «Besucht die grotten». Andam por ali a desafiar os turistas, com a simplicidade da silhueta colorida em flagrante contraste com a modernidade plastificada das barulhentas e poluentes motos de água e embarcações de recreio que, a partir de agora e durante uns dois meses, sulcam a baía de Armação em ritmo de auto-estrada. (...) Estávamos na praia e estranhei ver o velho barco de madeira tão longe da praia – creio que mais distanciado pela crise do que pela dimensão da concorrência. Quando vi o desespero do pescador para pôr o motor a trabalhar, lembrei-me da Margot, da carrinha, que não acabou rebocada por um barco, mas terá tido um final tão misterioso como o que para mim continua a envolver o da Margot; o barco que eu tripulava sentado à mesa de uma esplanada que já não frequento.

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