«Admirou sempre os escritores que todos os dias empreendem uma viagem rumo ao desconhecido e, no entanto, estão o tempo todo sentados num quarto. As portas dos seus quartos estão fechadas, nunca se mexem e, no entanto, o confinamento proporciona-lhes uma liberdade absoluta para ser quem desejarem ser, para ir onde os levarem os seus pensamentos. Às vezes, entrelaça esta imagem dos solitários nos seus quartos de escrita com a que tem sido a obsessão de toda a sua vida: a necessidade de capturar um génio, um jovem que fosse muito superior aos outros e que viajasse melhor do que ninguém pelo seu quarto. Gostaria de tê-lo descoberto e publicado, mas não o encontrou e parece ainda menos provável que venha a encontrá-lo agora. Em todo o caso, suspeitou sempre que existir, existe. É só, pensa Riba, porque permanece na sombra: na solidão, na dúvida, na interrogação; é por isso que não o encontro.»
[Enrique Vila-Matas, Dublinesca; em tradução para a Teorema;
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