26 de junho de 2012

Papiro do dia (233)

«E assim me encontrava agora num quarto que um velho e amigável homem me cedera, e porque dispunha de todo o tempo livre imaginável, aproveitava para, por outro lado passear, deambular, vaguear e vadiar pela floresta, e por outro lado para escrever sobre estas deambulações um ou outro ensaio talvez bastante razoável.
Ia para a floresta, onde apanhava várias flores e pequenas plantas catitas que dispunha de modo atraente e promissor numa caixa, assim criando uma amostra em miniatura da Primavera. Sobre as flores depositava um bilhetinho aprumado em que havia escrito algumas meiguices declaradas, e enviava tudo para uma jovem actriz que fazia de Luísa na peça Intriga e Amor.
Para além deste, também estabeleci, e com aparente sucesso, uns quantos contactos, em particular, e pela primeira vez na minha vida, com uma revista literária.
Se estava em casa e escrevia com fervor, logo Frau Bandi entrava no meu quarto para ver o que eu fazia.
“O que está o senhor barão a escrever?”, perguntava ela em tom zombeteiro. Ao que, em tom semelhante, eu respondia: “Toda a espécie de disparates.»
[Robert Walser, Histórias de Amor; trad. Isabel Castro Silva, Relógio d’Água, Abril 2008;
topa-se]

Sem comentários: