Dei o salto, mas voltei para fazer a tropa até à mobilização, que não chegou e só esperei sete meses pelo 25 de Abril, já com Tânger pelo meio; plantei árvores tão cedo como escrevi livros, só tive um filho mais tarde; casei-me duas vezes e do último estou separado. Cumpridos os pressupostos em vigor nessa derradeira metade do século passado, o meu declínio no novo século tem-se processado pelo abandono da máquina de escrever e a luminosa irrupção dos processadores de texto, a extinção tipográfica e a vulgaridade da edição doméstica, o fascínio pela Net até à perigosa e doentia obsessão. O passado é mais forte do que o presente, a formação apura-se ou degrada-se, não é mutante; a crisálida é do domínio físico. Só admito compromissos com o lúdico e enquanto lúdico, a tradução incluída. Percorridos cerca de quatro anos, promovi-me de co-piloto de um blogue a condutor solitário, recorrendo apenas ao acaso como GPS. Hipnotizado durante quatro meses e quinhentos e um posts, acabei por me sentir refém de um formato que eu próprio criei, armadilhado com a escravidão para a tiragem diária da meia-noite chegar composta e fresquinha às bancas do olhar. Não o omito; quase não me lembro da rádio, mas sinto nostalgia do fecho de página e uma saudade corrosiva vislumbrada nos blogues que fazem praia. Tradicionalmente maltratado por Julho e Agosto, tenho um trabalho para acabar, aceito fazer mais de uma época de Verão com Coetzee e, só depois, ocupado a rever Dublinesca, simultaneamente procurarei saber porque Este País Não É Para Velhos. Quando me sentir refeito desta persistente «atitude de trabalho», é possível que então retome o blogue; que Setembro se reinicie.
Não sei. Não sei vai-se tornando a minha expressão preferida, talvez a que gosto cada vez mais; não sei.
9 comentários:
"Só admito compromissos com o lúdico e enquanto lúdico".
Compreendo perfeitamente.
boa "reabilitação". fico à espera para ver onde o "não sei" te levará...
beijinhos
"O passado é mais forte do que o presente".
Nem duvide!
"refém de um formato que eu próprio criei, armadilhado com a escravidão horária..."
Eu, que me iniciei nestas andanças há cerca de mês meio, confirmo: isto tem que se lhe diga!
Cá ficamos à espera...
P. S. É sempre um prazer visitá-lo, mesmo sem deixar comentários...
Os olhares estremeceram na ausência da banca lúdica cuidadosa mente arranjada,as vidas dos seguidores apagaram-se e outros estragos irreparávéis,ainda não relatados, se fizeram sentir - como há 65anos atrás,na ilha de Nipon!
Também não sei se foi assim, mas imagino- pelas reacções daqueles que habitaram temporariamente a ilha virtual de nemsemprealapis!...
"é possível que então retome o blogue;", uf, afinal há esperança! Está escrito, por isso, temos provas irrefutáveis se for preciso.
E concordo, com a precariedade que se vai vivendo cada vez mais intensamente, "não sei", também tem sido a minha expressão favorita.
Pois, este blog não é para velhos. Toma umas vitaminas, acaba os trabalhitos (e agradece a deus por eles) e cá te espero em Setembro. Para meados. Porque no início desse mês de luz coada será a minha vez de ir a banhos.
PS.: Luz coada?! Me espanto às vezes, outras m'avergonho
Nem eu.
Imagine um outro formato, mais esporádico, mas a gente não pode perder este cheiro a que nos habituou. Era o que faltava! :-)
Sim, provavelmente por isso e
Enviar um comentário