«Era o último editor? Seria o ideal, mas não. Via diariamente nos jornais as fotos de todos esses jovens novos editores independentes. Pareciam-lhe, a grande maioria, seres insuportáveis e mal preparados. Nunca pensou que viria a ter substitutos tão idiotas e custou-lhe a aceitá-lo, um processo longo e doloroso. Quatro pacóvios tinham sonhado substituí-lo e, finalmente, tinham-no conseguido. E ele próprio acabara por lhes abrir o caminho, tinha-os ajudado a crescer falando bem deles. Foi muito bem feito, por ter sido tão bastardo, por se ter mostrado tão excessivamente elegante e generoso com os falsamente discretos novos leões da edição.
Um desses novos editores, por exemplo, dedicava-se a apregoar que vivemos um período de transição para uma nova cultura e, querendo crescer sem esforço, reivindicava narradores de prosa, na realidade, obtusa, que tinham encontrado uma mina na «linguagem nova da revolução digital», tão útil para encobrir a sua falta de imaginação e de talento. Outro jovem editor procurava publicar autores estrangeiros com o mesmo gosto e estilo do próprio Riba e, na realidade, só conseguia imitar o que este já tinha feito incomparavelmente melhor. Outro queria copiar os exemplos mais vistosos do mundo da edição espanhola e sonhava vir a ser uma estrela mediática e que os seus autores fossem meros peões da sua glória. E, em todo o caso, nenhum dos três parecia suficientemente astuto para aguentar os mais de trinta anos que ele aguentou. Tinha ouvido que planeavam fazer-lhe uma homenagem em Setembro, e que o revolucionário digital, o imitador e o aspirante a superstar se encontravam à cabeça da mesma. Mas Riba só pensava em fugir deles, porque por detrás daqueles movimentos havia interesses ocultos e muito pouca verdadeira admiração.»
[Enrique Vila-Matas, Dublinesca; em tradução para a Teorema;
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6 comentários:
Isto é para sair quando? Estou com ganas deste livro em português.
pedro
E tem bons motivos para essas ganas, não lhe posso é dar ainda uma perspectiva quanto à publicação. Durante as Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim? Não sei
Não querendo abusar da sua boa vontade, pergunto: o livro é de leitura difícil no original? Não sendo daqueles portugueses que sabe habliar espanhuel ou portunhol, li El Mal de Montano no original e não tive grandes dificuldades. Se assim fosse, compraria o original deste também.
Obrigado e continuação de um bom trabalho.
pedro
Se leu «O Mal de Montano» no original, não creio que tenha dificuldade em ler «Dublinesca».
Alerto-o só para as gralhas e dois pormenores: não leia «paseante» como «caminhante, transeunte», aqui tem o cunho sebaldiano de «El paseante solitário (Walser)»;
quanto a «dublineses», expressão que existe em castelhano, mas não em português, optei pelo título homónimo, «gente de Dublin», porque todo o livro é uma labiríntica homenagem ao «Ulisses», a Joyce.
Mande sempre :)
Jorge, grato pela sua disponibilidade. Vou encomendar o livro agora mesmo. De qualquer forma, de certeza que comprarei a edição portuguesa.
Há uns tempos falou-se num artigo do Público em alter-modernidade, conceito de Bourriaud, em Sebald e Vila-Matas. Mais tarde, numa entrevista ao escritor espanhol, perguntaram-lhe se ele e Sebald eram escritores para o século XXI: em primeiro lugar, respondeu que a escrita de ambos era muito distinta e, em segundo lugar, que não acreditava que ele ou Sebald pudessem ser escritores para o novo século.
Pois bem, se a escrita de ambos é, de facto, muito distinta, a verdade é que se tocam em muitos pontos sem serem minimamente idêntica. No segundo ponto tenho de discordar: a meu ver Sebald e Vila-Matas são escritores para o século XXI. Pena que um já não escreva mais.
E gosto da forma como se coloca a pergunta: escritores para o século XXI, não "do" ou "no" século XXI.
Continuação de um óptimo trabalho.
Até mais e obrigado pelo feedback.
pedro
Os jornalistas culturais são uns patuscos. Vai encontrar a resposta, ostensiva, elaborademente velada, «à mão de ler», em «Dublinesca»
Abraço
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