2 de agosto de 2010

Nem sempre a lápis (67)

Há pessoas que queimam, correm o sério risco de entrar em auto-combustão e não sabem. Levam uma vida normal, nem seria de esperar vê-las assessoradas por um extintor ou um providente, mas ridículo, balde de água fria. Refiro-me apenas às que têm mais atenção e respeito pelos «bens» alheios, que os outros, nem isso; nem o risco de serem acusados de incendiários os arrefece. Denunciam-se por uma natural aptidão para o magistério, a assistência social, as claques de futebol, o canto coral, as manifes, a tecelagem com cordões-humanos, além do pára-quedismo.
Acreditam, firmemente, que só a velocidade da queda as conseguirá arrefecer, extinguir o brasido que as consome por dentro. É frequente vê-las a aquecer as mãos nas correntes de ar; sobretudo à noite, nas paragens dos autocarros que já passaram.
E então fulgem magnificamente como estrelas cadentes, sem que se perceba se são portadoras de passe ou se são passageiros de passagem.

1 comentário:

noni disse...

Belo texto:parte da combustibilid ade dos humanos que fulgem,sem referir nunca o comburente!