8 de janeiro de 2014

Nem sempre a lápis (466)

Memória descritiva
Mata
A mata era um dos espaços interditos da infância.
Hoje nada resta desse lençol ondulante das mimosas, acácias e austrálias, que separavam o jardim-escola da escola, e nos aguardava como um passo irreversível na idade da razão.
No limiar da transgressão, habitada por uma moura no recato húmido de uma gruta, a mata incitava-nos ao crescimento, e era um dos melhores covis da minha imaginação.
A adolescência revelou-me outras matas, onde as estações do ano me ensinaram a decantar a folhagem e a luz da sombra, nas margens de um rio devorado por uma barragem.
Delas apenas conservo alguns ocasos, como uma memória esticada pelo arco de uma ponte romana, entretanto submersa pela secura do futuro.
De quase todas elas, porque a única mata que me resta, resume-se a uma árvore, em Silves, ensinada pela moura que me dispensa a imaginação.
Ou a saudade.

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