19 de janeiro de 2014

Nem sempre a lápis (480)

Memória descritiva
Porto Côvo
É uma fenda na falésia, como uma colherada furtiva num doce de domingo.
Visto de cima assemelha-se a uma mão entreaberta, com os dedos entregues à massagem das vagas.
Ou desentrançando as algas, com paciência de mãe em cabeleira amotinada.
Nunca o vi do mar.
Mas entretenho-me a imaginá-lo, sem o risco de repetir a surpresa e a segurança da atracagem.
Procuro-o a horas diferentes, e disposições indiferentes, nem sempre as mais fiéis, para lhe continuar a medir a dimensão da mão.
Como um aconchego.
Uma carícia reinventada.
Nele fundeei algumas das melhores recordações, e maiores sustos.
Covos como ele, à dimensão dos cais da descoberta.

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