«Ammu dizia que o destino triste, mas inteiramente previsível, dos aviões de Chacko era a medida exacta das suas capacidades.
Uma vez por mês (excepto durante as monções), chegava uma encomenda por Via Postal Prioritária para Chacko. Continha sempre um kit em balsa para modelar. Chacko costumava gastar entre oito a dez dias para montar o avião com o seu minúsculo depósito de combustível e hélice motorizada. Quando ficava pronto, levava Estha e Rahel até aos campos de arroz em Nattakom para o ajudarem a fazê-lo voar. Nunca voava mais do que um minuto. Mês após mês, os aviões tão cuidadosamente construídos por Chacko despenhavam-se nos arrozais verde-lamacentos, arrastando atrás de si Estha e Rahel que, como cães de caça bem treinados, corriam para salvar os destroços.
Uma cauda, um depósito, uma asa.
Uma máquina ferida.
O quarto de Chacko estava atulhado de aviões de madeira partidos. E todos os meses chegava um novo kit. Chacko nunca responsabilizava o kit pelos desastres.»
[Arundhati Roy, O Deus das Pequenas Coisas; trad. Teresa Cabral, BIIS, Setembro 2010]
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