21 de novembro de 2011

Papiro do dia (150)

«Lá dentro havia quatro cadernos esfarrapados. Nas capas diziam Cadernos de Exercícios de Sabedoria com espaço para Nome, Escola/Faculdade, Turma, Disciplina. Dois tinham escrito o nome dela, e dois o nome de Estha.
No verso da contracapa de um deles havia algo escrito numa caligrafia infantil. O desenho cuidadoso de cada letra e o espaço irregular entre as palavras fora preenchido com a luta pelo controlo de um lápis errante e voluntarioso. O sentimento, pelo contrário, era lúcido: Eu Odeio Miss Mitten e Acho que as suas calsinhas têm BURACOS.
Rahel estava sentada de pernas cruzadas (no banco sobre a mesa).
- Esthappen Dês-conhecido – disse ela. Abriu o livro e leu em voz alta.

“Quando Ulices regressou a casa o seu filho veio e dice pai julgava que nunca mais voltavas. vieram muitos príncepes e todos eles criam casar-se com Pen Lope, mas Pen Lope dice que o homem que conseguir lansar uma seta por entre os doze arcos pode casar comigo. e todos falharam e ulices veio ao palácio vestido como um pedinte e pediu se pudia tentar. os homens riram-se todos dele e diceram se nós não conseguimos tu também não. o filho de ulices mandou-os calar e dice deixeino tentar e ele pegou no arco e lansou a seta mesmo por entre os doze arcos.”»

[Arundhati Roy, O Deus das Pequenas Coisas; trad. Teresa Cabral, BIIS, Setembro 2010;
ulices

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