2 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (448)

Memória descritiva
Cavalo
Nasci numa casa dividida entre a perplexidade da morte do cavalo vapor, e o trote ameaçador das octanas.
Esses equídeos nada tinham a ver com o Pégaso de esmalte que desafiava o vento, afixado no exterior da casa.
Durante as férias aprendi a montar, sem me aperceber que a Cavalaria viria a ocupar um lugar de destaque no que mais odeio.
Nesse outro lugar, também os cavalos eram metálicos e mecânicos, sem a nobreza do animal vilipendiado.
Anos mais tarde, vim a confrontar-me com um outro tipo de cavalo:
a minha geração atulhava as veias de garranos venenosos, para sossego dos prados que abastecem o sistema.
Muitas vezes acordei a meio da noite, despertado pela proximidade de um relincho.
Hoje, a minha vida divide-se entre o trote do ozono e o luto do futuro.

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