17 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (455)

Memória descritiva
Hotel
 
Estreei-me num pequeno hostal a caminho de Algeciras, até atingir os de Tânger, decorados com azulejos e o canto dos canários.
Durante anos, o jornalismo obrigou-me a um forçado upgrade do alojamento, e cheguei mesmo a dormir numa suite barroca, na Alemanha.
Ou num palácio das mil e uma noites, em Marrakech.
Não sei se me habituei mal ou bem, mas já não dispenso a comodidade de um hotel previamente marcado, no fim da viagem.
Com garagem.
Longe vai o tempo em que a mímica suplantava as minhas dificuldades linguísticas, e não me recordo de ter voltado a utilizá-la para perguntar ao estalajadeiro se o canito me defendia o carro.
Estava no Sul de Espanha, entre Tarifa e Cádiz, e toda a minha fortuna consistia num velho VW e uma mochila com roupa suja.
Os cadernos e as mortalhas tinham subido comigo para o quarto, onde uma cadeira de tabua fazia de cabide.
E uma bacia acompanhada de um jarro de esmalte e uma toalha, substituíam a casa de banho.
Dormi como um santo.
Se é que os santos dormem, e nos contam como.
Talvez me lembre desse sono, porque nunca me senti tão só, como quando tiveram a amabilidade de me servir uma refeição no quarto, em Dijon.

Sem comentários: