«Rahel entrou primeiro para a lista negra no Convento Nazaré, aos onze anos, quando foi apanhada do lado de fora do portão do jardim da sua chefe de internato a decorar com florinhas um poio fresco de bosta de vaca. Na Assembleia da manhã seguinte foi obrigada a procurar a palavra depravação no Dicionário Oxford e a ler o significado em voz alta. “Qualidade ou condição de ser depravado ou corrupto”, leu Rahel, com uma fileira de freiras de lábios cerrados sentadas atrás de si e um mar de alunas aos risinhos à frente. “Qualidade perversa: perversão moral; corrupção inata da natureza humana devido ao pecado original; tanto os eleitos como os não-eleitos vêm ao mundo num estado de total d. e alienação em relação a Deus e, entregues a si mesmos, nada podem senão pecar. J. H. Blunt.”
Seis meses depois foi expulsa após repetidas queixas das raparigas mais velhas. Era acusada (justamente) de se esconder atrás das portas e dar encontrões propositados às mais velhas. Quando foi chamada e interrogada pela Directora sobre o seu comportamento (com recurso a lisonja, cana, jejum), acabou por admitir que fizera aquilo para descobrir se os seios se magoavam. Naquela instituição cristã, os seios não eram coisa reconhecida. Supostamente não existiam e, se não existiam, como é que podiam doer?»
[Arundhati Roy, O Deus das Pequenas Coisas; trad. Teresa Cabral, BIIS, Setembro 2010]
3 comentários:
:(
É a bida, menina
É o conhecimento empírico!
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