13 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (453)

Memória descritiva
Granito
 
São os guardiões das paisagens da minha infância.
O meu olhar aprendia a ver, e começava a circular por entre as sentinelas do horizonte.
Sem esforço, ou contrariedade.
Apesar da austeridade, o granito animava as casas, aconchegava os caminhos.
Apaziguava os mortos com a terra.
Quando chovia, exalava um perfume que me devolvia ao Verão, e às saudades da chuva pelas eiras polvilhadas de palha de centeio e bosta.
Impossível ignorar-lhe o calor da presença.
A homenagem apregoada pela estatuária.
Ou a majestade dos penedos.
Em miúdo, desafiei-lhes o equilíbrio.
Mas eles permanecem imutáveis como os nomes que lhes deram, e resistem à idade.
Cabeça da Velha, e outros espectros petrificados na minha infância.
São o melhor poleiro da minha imaginação, e conforto adiado para a velhice.
E quase descubro uma penugem, quando o meu corpo lhe reencontra a pele.

2 comentários:

F disse...

isso é na Serra da Estrela, certo?

fallorca disse...

Nas faldas da Serra, certo :)