«O modelo económico aplicado desde a Revolução Industrial à maioria das tecnologias e formas de comércio – de produção de bens com o menor custo possível e o maior lucro possível – chegou ao domínio do livro no século XX. Para atingir este fim, grande parte da indústria livreira – em especial no mundo anglo-saxónico – contratou equipas de especialistas encarregadas de determinar que livros deveriam ser produzidos com base num modelo supostamente matemático de previsão dos livros que venderiam. Do estratega dos departamentos de marketing editorial ao comprador para as grandes cadeias livreiras e também, talvez menos conscientes da sua responsabilidade, aos editores e professores de escrita criativa, quase todas as partes da indústria livreira se tornaram, em grande medida, peça de uma linha de produção visando a criação de artefactos para um público, não de leitores (no sentido tradicional), mas de consumidores. É certo que muitos que haviam ingressado na indústria por amor aos livros se mantêm obstinadamente fiéis à sua vocação, mas fazem-no apesar da enorme pressão – em especial no seio dos grandes grupos de edição – no sentido de considerarem o livro, acima de tudo, um objecto vendável. Embora haja, com certeza, editores que conseguiram manter a sua integridade, as decisões editoriais são cada vez mais delegadas nos departamentos de marketing e nos compradores para as grandes livrarias. Como consequência, a autocensura crítica e as considerações comerciais insinuam-se com frequência crescente no reino editorial.»
[Alberto Manguel, A Cidade das Palavras; trad. Maria de Fátima Carmo, Gradiva, Junho 2011;
insinuação]
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