«Leu os versos começando pelo fim, mas assim deixavam de ser uma poesia. Depois leu a página de guarda de baixo para cima, até chegar ao seu nome. Sim, era ele; e releu a página até baixo. Mas que haveria depois do universo? Nada. Mas haveria qualquer coisa em torno do universo para mostrar onde terminava, antes do lugar onde começava o nada? Não poderia ser uma parede, mas bem podia ser uma linha fininha, em torno de todas coisas. Era algo imenso, pensar em tudo e em todos os lugares. Só Deus o podia fazer. Tentou imaginar o enorme pensamento que esse deveria de ser, mas só conseguiu pensar em Deus. Deus era o nome de Deus, tal como o seu nome era Estêvão. Em francês dizia-se Dieu em vez de Deus, e era também o nome de Deus. E quando alguém rezava e dizia Dieu em vez de Deus, Deus compreendia imediatamente que era um francês que rezava. Mas embora tivesse nomes diferentes em todas as línguas do mundo, e se bem que Deus compreendesse o que diziam todos os homens quando rezavam nas suas línguas diferentes, contudo Deus permanecia sempre o mesmo Deus, e o nome verdadeiro de Deus era Deus.»
[James Joyce, Retrato do Artista Quando Jovem; trad. Alfredo Margarido, Livros do Brasil, s.d.;
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