«Preocupa-me a Ana Luisa. Magoa-me não a poder ajudar. Creio que está a passar muito mal e a vida dela vai ser horrível, sem que ela tenha culpa nenhuma. Embora, se pensar bem e reparar nas pessoas que conheço ou de quem sei alguma coisa, a vida de toda a gente é sempre horrível.
Mil anos depois chegaram as coisas que tínhamos deixado em México, entre elas o baú onde a minha mãe guarda as fotos. Em vez de estudar ou ler, passei horas a contemplá-las. Tenho algum trabalho em reconhecer-me na criança que aparece nos retratos de há já muito tempo. Um dia, vou ser tão velho como os meus pais e então, tudo isto que vivi, toda a história de Ana Luisa, irá parecer incrível e mais triste do que agora. Não entendo porque é que a vida é como é. Também não consigo imaginar como seria possível de outra maneira.»
[José Emilio Pacheco, O princípio do prazer; em tradução para a Colecção Ovelha Negra / Oficina do Livro;
2 comentários:
"Tenho algum trabalho em reconhecer-me na criança que aparece nos retratos de há já muito tempo."
Falávamos, aqui há tempos, de felicidade. Eu penso que ela pode passar pela capacidade de nos reconhecermos na criança dos retratos.
Não sei o que fiz ao teu email, não o tens aqui no blog, pois não?
Biolaram-me o e-mail, bê lá tu, menina :P
Deixo-o pelo teu
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