«Devo dizer que, durante o primeiro ano, os doces franceses me sabiam um pouco ao insípido. Nenhum tinha picante, cores fluorescentes ou aspecto radioactivo e isso diminuiu, em boa medida, a minha paixão por eles. Os seus nomes acentuavam a diferença com os do meu país. Em vez de Pulparindo ou Burbuzest, lá tinham nomes como as frutas e os animais: oursons, minibananes, fraises tagada, como se não se distinguissem simplesmente pela substância genética de que eram compostos. Em poucas palavras, faltava-lhes mistério e, sobretudo, o carácter escatológico que enchia de repulsa a expressão dos adultos e aumentava o seu atractivo. Com o passar do tempo, fui tomando o gosto a essas guloseimas bem embaladas e sem ambiguidades. Entre as minhas favoritas, encontrava-se o Malabar, uma chicla que incluía a possibilidade de fazermos uma tatuagem com saliva, bastando lamber a embalagem e colá-la no braço e também um caramelo comprido, chamado Carambar, cujo sabor era semelhante ao dos chupa-chupa de leite, mas de melhor qualidade.
A nossa origem mexicana parecia despertar a curiosidade das crianças daquela escola. Quando surgia a oportunidade, perguntavam-nos se no nosso país, se continuava a usar penacho, se vivíamos em pirâmides e se tínhamos o costume de usar o carro. Eu contava-lhes toda a espécie de coisas para os impressionar. Dizia-lhes, por exemplo, que havia poucos automóveis e que muitas vezes era necessário deslocarmo-nos de elefante para chegar à escola.»
[Guadalupe Nettel, O corpo em que nasci; em tradução para a Teodolito]
2 comentários:
Nos anos 60, em Inglaterra, os colegas de escola perguntavam-me se quando eu fosse viver para Angola (estaria para breve) se ia morar numa cabana e outras coisas assim.
So british... moravam todos em castelos, não?
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