«Pensou que a sua doença estava no coração, se era possível ter uma doença em semelhante órgão. Fleming era gentil querendo saber o que se passava. Ficou com vontade de chorar. Fincou os cotovelos na mesa e começou a tapar e a destapar os ouvidos. Cada vez que libertava os lóbulos das orelhas ouvia o rumor do refeitório. Trovejava como um comboio à noite. E quando voltava a tapar os ouvidos o bramido ensurdecia, como quando um comboio penetra num túnel. Uma noite, em Dalkey, o comboio estrondeara da mesma forma, e depois, ao entrar no túnel, o estrépito desaparecera. Fechava os olhos e o comboio continuava, rumorejando, depois parava, voltava a fazer barulho e tornava a calar-se. Era divertido ouvi-lo rugir e parar, e depois voltar a seguir, já fora do túnel, e depois silenciar.»
[James Joyce, Retrato do Artista Quando Jovem; trad. Alfredo Margarido, Livros do Brasil, s.d.]
3 comentários:
Excelente excerto.
Não sabia que James Joyce é editado pela Livros do Brasil.
Parece que a edição é já das antigas.
Estão editados vários títulos nesta colecção, «Ulisses», «Gente de Dublin» (e não Dublinenses, como agora corre por aí;)
Haja tempo para ler que a vontade nunca falta.
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