Sem que nada o fizesse prever – até tinha pensado ir à Feira buscar dois livrinhos, em princípio, hoje ou amanhã –, quando fui tomar o pequeno-almoço levei as chaves da carrinha, imobilizada há duas semanas; pegou que foi um mimo, a provocadora. Não tive outro remédio se não ir a casa desligar o computador – já tinha aberto a correspondência enquanto me arranjava –, enfiar duas mudas de roupa e de leitura no saco, acondicionar o portátil e encontro-me na Mimosa, sentado à mesa do costume com o pretexto de comer qualquer coisa. Como tenho andado desencontrado com o segurança, primeiro passei pela Leya para apanhar os exemplares de Santa Maria do Circo, mas livrei-me do sufoco da Segunda Circular atalhando pela fluidez, nem sempre natural, do Monsanto. Quanto aos livros que pensava ir buscar à Feira – Cioran e Cormac McCarthy – podem esperar até dia 14, quando lá for para me encontrar com David Toscana. Ele, vindo de Varsóvia, onde vive; eu, regressado do Sul, com que me reencontro. Perante as razões Do Inconveniente de Ter Nascido, expostas por Cioran, gostava de saber o que levou McCarthy à conclusão de que também Este País Não É Para Velhos; algum o será? Traído pela luz embaciada, só quando resgatei o olhar do cenário hipnótico da auto-estrada é que me lembrei da instamatic esquecida em casa. À medida que progredia pelo Baixo, os cilindros de pasto iam contrastando com o campo atapetado de rosmaninho, orlado de tremoço, de culturas pobres. A primeira vez que me confrontei com aquela volumetria rolada pela terra exangue, foi no tempo em que ainda se tinha de inflectir pela barragem do Monte da Rocha, a partir de Ourique, para ir ter com os campos de girassóis de Aljustrel. Nessa altura tinha lido umas coisas sobre a land art – que nada tem a ver com a Arte da Terra – e sempre que utilizava esse percurso excitava-me a planear uma «instalação», com o que via naturalmente instalado; era o tempo da soberba e da posse, esgotado com polaroïds de memória, mindlaroïds (Fruta da Época).
16 de maio de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário