Fiquei com as mãos, sobretudo os nós dos dedos, todas escalavradas, mas subi a aviadora pela escada sete andares, a fazer tabelas nas paredes ásperas. Parava de dois em dois, depois um de cada vez, sentado com o interruptor à mão; bastavam três doses de temporizador para retomar a escalada, com o telemóvel disponível para qualquer percalço; fazer de lanterna, de pilha, sem cães à vista. Quando finalmente a convenci a entrar na sala, depois de retiradas duas portas e de nos termos contorcido numa dança escusada, apresentei-a à luz do candeeiro que a esperava, indiferentes à manhã que nascia, à cor da napa esfregada nas calças; delatora. Sabedores do nosso destino, passámos o dia a olhar-nos intimidados; a única atenção que nos dispensámos foi pôr-lhe as flores que me ofereceram num copo e chegar-lhe um cinzeiro, confirmar a posição. Não gostaria de ir a Asilah sem primeiro saber como passarei a ver daqui,
sentado na aviadora que o Zé Pinho me emprestou para que eu possa olhar ainda mais devagar, a ler.
25 de maio de 2010
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