«A desgraça fascista de Heidegger não é um incidente ocasional, porque o fascismo, na sua dimensão menos ignóbil mas nem por isso menos destrutiva, é também esta atitude de quem sabe ser um bom amigo do seu companheiro de assento, mas não dá conta de que igualmente outros homens podem ser do mesmo modo amigos dos seus companheiros de assento. Eichmann era sincero quando em Jerusalém ficou horrorizado ao descobrir que o pai do capitão Less, o oficial israelita que o interrogara durante meses e para com o qual sentia um profundo respeito, morrera em Auschwitz. Horrorizado, porque a sua falta de imaginação o impedira de descobrir nas listas das suas vítimas rostos, feições, olhares, homens concretos.»
[Claudio Magris, Danúbio; trad. Miguel Serras Pereira, Quetzal, Março 2010;
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