«___ eu nasci em 1931, no decurso da leitura silenciosa de um poema. Só havia tecidos espalhados pelo chão da casa, as crenças ingénuas de minha mãe. Estavam igualmente presentes as páginas que os leitores haveriam de tocar (como a uma pauta de música), apenas com o instrumento da sua voz. Eu fui profundamente mal desejada e com amor.
- A voz está sozinha – disse minha mãe, ainda eu estava no seu ventre, a ler-me poesia.
- Não por muito tempo – responderam àquela que me iniciava na língua. E eu nasci na sequência de um ritmo.
Eu nasci para acompanhar a voz, a fazê-la percorrer um caminho. De um lado a outro do percurso, não sei o que existe,
o caminho caminha,
eu deslumbro-me quando o tempo se suspende,
e me permite parar a contemplar o espaço sem tempo.»
[Maria Gabriela Llansol, Onde vais, Drama-Poesia?; Relógio d’Água, Março 2000]
Sem comentários:
Enviar um comentário