- Estou a começar a pagar. Mais vale começar cedo, para acabar depressa.
Não sentiu dor.
Quando falou às pessoas reunidas no pátio para lhes agradecer a presença, abrindo caminho à sua voz por entre o choro das mulheres, não perdeu nem o fôlego nem as palavras. Depois, ouviu-se apenas o resfolegar do potro alazão de Miguel Páramo.
- Amanhã mandas matar aquele animal para que não continue a sofrer – ordenou a Fulgor Sedano.
- Está bem, dom Pedro. Percebo. O pobre animal deve sentir-se desolado.
- Concordo, Fulgor. E já agora diz às mulheres que não façam tanto escândalo, é demasiado alvoroço por causa do meu morto. Se fosse delas, não chorariam com tanta vontade.»
[Juan Rulfo, Pedro Páramo; trad. Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues, Cavalo de Ferro, Abril 2004;
carpideiras]
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