«Da bica, as gotas caem uma a uma. Ouve-se, saindo da pedra, a água clara que cai no cântaro. Ouve-se. Ouvem-se barulhos; pés que raspam o solo, que caminham, que vão e vêm. As gotas continuam a cair incessantemente. O cântaro transborda, fazendo rolar a água sobre um chão molhado.
“Acorda!”, dizem-lhe.
Reconhece o som da voz. Tenta adivinhar quem é; mas o corpo afrouxa e cai adormecido, esmagado pelo peso do sono. Umas mãos puxam as cobertas, prendendo-as e, sob o seu calor, o corpo esconde-se à procura da paz.
“Acorda!”, voltam a dizer.
A voz sacode os ombros. Faz endireitar o corpo. Entreabre os olhos. Ouvem-se passos que se arrastam… E o pranto.
Então ouviu o pranto. Isso acordou-o: um pranto suave, fino, que talvez por ser fino conseguiu atravessar o emaranhado do sono, chegando ao lugar onde se aninham os sobressaltos.»
[Juan Rulfo, Pedro Páramo; trad. Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues, Cavalo de Ferro, Abril 2004]
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