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«Sou o professor da aldeia. Vivo perto do moinho. Às vezes, o vento cobre-me a cara de farinha.
Tenho pernas compridas e as noites de insónia lavraram olheiras sob as minhas pestanas.
Componho a minha vida com rústicos materiais da aldeia: o som agónico do comboio local, as maçãs do Inverno, a humidade sobre a casca dos limões tocados pela geada da madrugada, a paciente aranha na sombra do meu quarto, a brisa que move os tecidos das cortinas.
A minha mãe lava enormes lençóis durante o dia e à noite ouvimos folhetins radiofónicos a beber chá de erva-cidreira, até que a onda se perde entre dezenas de emissoras argentinas que ocupam a radiação nocturna.»
[Antonio Skármeta, Un padre lejano (Versão final Outubro 2009); em tradução para a Teorema]
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