«E vim a descobrir que tinha razão. Grielescu estivera ligado aos nazis, não à mais suave forma italiana de fascismo. É difícil dizer quão politizada tinha sido Madame Grielescu. A minha impressão é a de que, nos dias antes da guerra, era uma beldade cheia de estilo, uma coquete da alta sociedade. Podíamos facilmente visualizá-la a sair de uma limusine com um chapéu redondo. As mulheres que vestiam boas roupas e bâton vermelho-vivo geralmente não se metiam em política. Estas senhoras europeias geriam o comportamento social dos maridos – os machos da sua espécie. Os homens existiam para abrir portas e puxar cadeiras à mesa de jantar.
Madame Grielescu nunca estava completamente bem. A julgar pelas suas rugas, estava para lá dos sessenta, infeliz com o facto, mas também muito exigente com os homens – um manual ambulante de etiqueta. Era impossível adivinhar o que sabia do passado do marido na Guarda de Ferro. No fim dos anos trinta, quando os alemães tinham conquistado a França, a Polónia, a Áustria e a Checoslováquia, Grielescu tornara-se uma espécie de guru cultural em Londres e mais tarde tivera o seu papel em Lisboa durante a ditadura de Salazar.»
[Saul Bellow, Ravelstein; trad. Rui Zink, a preço silly pelo “DN”;
Chalet Barahona]
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