3 de maio de 2010

Nem sempre a lápis (18)

São cinco da manhã; estou, seguramente, há umas quatro a fumar e a passear pelas salas dos espelhos da minha cabeça. Dispensei o portátil e deitei-me sem pegar num livro; não toquei nas provas d’Os Segredos da Rainha, Leonor de Portugal, contados em catalão pelo escritor galego X. R. Trigo; desorientei-me um pouco com a fobia sexual comungada por todas as religiões, a lembrar-me dos livros que traduzi sobre cátaros, budistas, católicos e outros capados; desisti. Levantei-me para ir buscar os óculos e ligar o portátil, quando me apercebi das horas ou as horas determinaram que estive numa das noites em que regresso a ouvir os bêbados na praceta, o comportamento dos carros que passam, o silêncio. Perseverou, até agora, o infatigável fascínio por «o que se passa quando não se passa nada.» (Georges Perec)

1 comentário:

Sol disse...

"Lo que sucede cuando no sucede nada" parece ser la misma cosa en todos lados. Tal vez sean los mismos ebrios en la plaza, los mismos autos que pasan, el mismo silencio ensordecedor. Tienes razón, Fallorca, de cierta forma existe una especie de encantamiento, de fascinación en las largas noches insomnes...