6 de maio de 2010

Nem sempre a lápis (21)

A Cicatriz e Os Blues – é esta a sequência; O Livro do Fim é um álbum estilhaçado, lá iremos – mereceram duas leituras que me deixaram de boca aberta; no que a expressão encerra de mais sincera abertura. Já o ano passado me tinha surpreendido uma outra leitura – de viva voz – quando vi Longe do Mundo na mão da Catarina, no coreto da Estrela. Mais documentada, a leitura de Henrique Fialho recorre à presença de títulos anteriores para sublinhar a cicatriz; sedimentação de tatuagens. Quanto à leitura dos Blues, caiu-me esta tarde de surpresa no e-mail do blogue, remetida por Hugo Santos. A princípio, pensei que era um comentário do gerente do Café dos Loucos, Hugo também; mas como não vi as ferramentas habituais abri, à minha maneira corrida, o documento anexo. Depois fui ver os endereços, surpreendendo-me que não tivesse utilizado o Outlook, por onde lhe respondi mais qualquer coisa depois de o ter feito, no imediato, no Hotmail; enfim, uma confusão pegada. A leitura deste Hugo – «Envio-lhe um texto que escrevi sobre Blues. A ideia seria publicá-lo em papel. Se isso acontecer, o texto sairá, necessariamente (imposições de espaço, claro), em versão mais curta ainda. Se não chegar a sair (se alguém se tiver adiantado), 'publicá-lo-ei' apenas on-line.» –, este ledor sabe swingar entre risos e lágrimas; entre escrita e leitura; entre estrada e refúgios; obrigado pela visibilidade do correio electrónico. Maio aproxima-se. Em dois anos, expandi a celebração do mês da Clarividência em todas as direcções; do Monte Alto para Mortágua; de Carnaxide para Porto Covo; de Carnaxide para Armação, novamente o All-Gharb e Carnaxide. Hoje, quando ilustrei um Nem sempre a lápis com uma foto tirada por umas miúdas andaluzas – que me pediram que as documentasse em pose de Semana da Páscoa, na Fortaleza –, só quando vi a foto guardada no rascunho me ocorreu esta grata coincidência: que a ermida seja a mesma d’O Livro do Fim, onde manifesto o desejo de ser velado; que a expressão me recorde o instantâneo da campa do meu irmão, a olharmos ambos para o mesmo lado.
Os predadores da noite uivam aos cães, incitam-nos na dúvida da noite; são os lobos do álcool e das drogas maradas descidos à estepe dos subúrbios adormecidos. Encontro-me em bom companhia nos Correios (Charles Bukowski).

1 comentário:

Cristina Gomes da Silva disse...

Não percebo o espanto de boca aberta ;-). Ou melhor, percebo, quem escreve bem e por gosto escreve em recolhimento, sem pretensões. Quando os outros gostam é um gosto espantado. Eu também gostei :-)