25 de agosto de 2012

Nem sempre a lápis (312)

Animais domésticos
(1970/1980)

Este é o espaço destinado a todos os equívocos, com gente assomando – estridentemente – às colunas por onde se esvai a escrita.
Porque a necessidade deixou de ser travessa e assume-se como gazua.




21. A erva não está cortada, mas olhos verdes viram-na rir. Traduzida depressa para as frases mortas das paredes, depois de um cisne passar.
E quando disse mãe, do outro lado respondeu-lhe a Morte, fotografada pelo olhar horrorizado de uma criança.

As pedras também não morrem.

23. É uma mancha verde correndo pelo campo fora, ou saltando como circunferência de pêlo redondo. Exaltação dos dedos na mão dentro da terra – quentes, quase nunca verticais. Húmidos. Acesos no fim da boca, redondos como mancha verde assustada no pêlo da circunferência. Campos altos, natas mordidas pelas manchas dos frutos verticais. Boca convulsionada, terra da circunferência quente.
É uma mancha verde correndo,
correndo das (nas) mãos.

24. Boca de peixe, com os motores da mãe rugindo na areia –. Arde o peito, arde a memória, tragada pela breve humidade das costas, como uma pedra quente sobre cidades europeias.
Como a respiração das pessoas dentro da boca das outras pessoas.
Aquário onde assisto ao fuzilamento dos nomes, com o fascínio de uma janela entreaberta na puberdade.


25. (...) porque uma praia acordou pouco depois de partirmos. Entretanto, era o deserto queimado –
o teu sangue no musgo das mãos que passam. Ave cinzenta das dunas, quando a voz gela nos ombros que se foram embora.
Por onde ardia, uma árvore rendia-se às águas mortas

– Algeciras é no corpo em frente


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