28 de agosto de 2012

Nem sempre a lápis (313)

Animais Domésticos
(1970/1980)


Se é certo viajar-se no tempo através da argila, imagine-se a surpresa com que cada um se encontra na olaria.



26. Aconselharam-me o Sul. Disseram: espaços, as aves, a cal. Aprendi depois, também o mar. Devorei o Azul ouriçado de espanto, em cada esquina.
Aconselharam-me o Sul. Disseram-me noutros espaços, que não o das aves, de cal em cal. Talvez eu tenha pensado:
se calhar o mar ouriçado de Azul. Espanto. Voracidade em cada esquina – o Sul,
aconselharam-me: talvez eu tenha pensado demais, em cada azul. Depois:
o mar.


27. A pequena praia limitava-se a um extenso areal ventoso. Num lugar cercado por casas de madeira, as crianças levantavam as cabeças dos avós nos papagaios.


28. Os seus métodos eram outros: as mulheres torciam a roupa, e ele desejava essa pequena humidade –
ser desalojado assim, por um gesto secretamente feminino.
Ou ser cordel, ligar a infância a um papagaio.
Possuir todos os graus da relação.


29. Aqui não se vê nascer o sol, nem pôr-se sobre o mar.
Sentimo-lo passar como uma língua de fogo
doce


30. A minha vontade era possuir-te sobre o mar, vir-me no azul como uma gaivota.


31. Às vezes estou a despir-me e paro a ouvir o vento.
Vocês estão a dormir, e fico nu no meio da sala às escuras, até ouvir só o Vento.
Depois, vou-me deitar.
Dou por isso todas as manhãs.




Uma noite, apenas –
escrevemos sobre a mão uma casa decisiva.
Depois os dedos são uma floresta restituída à árvore.

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