«Para mim, uma inteligente nota de rodapé tem redimido mais de um texto. E eu dou-me conta de como estou agora a usar uma longa nota de rodapé para abrir um assunto sério – mudando num movimento rápido para Paris, para uma suite do Hotel Crillon. Princípios de Junho. Hora do pequeno-almoço. O anfitrião é o meu bom amigo Professor Ravelstein, Abe Ravelstein. A minha mulher e eu, também hóspedes no Crillon, temos um quarto por baixo, no sexto piso. Ela ainda está a dormir. O andar inteiro por baixo do nosso (isto é absolutamente irrelevante, mas de algum modo não consigo deixar de o mencionar) está ocupado neste mesmo momento por Michael Jackson e a sua entourage. Ele actua à noite num qualquer vasto auditório parisiense. Dentro em pouco chegarão os seus fãs franceses e uma multitude de rostos ficará voltada para cima, gritando em uníssono, Mikell Jack-soune. Uma barreira de polícia mantém os fãs à distância. Cá dentro, do sexto piso, quando olhamos para baixo pelas escadas de mármore vemos os guarda-costas de Michael. Um deles está a fazer as palavras cruzadas no Paris Herald.»
[Saul Bellow, Ravelstein; trad. Rui Zink (a preço silly pelo “DN”)]
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