12 de outubro de 2013

Nem sempre a lápis (441)

Memória descritiva
Algarve
Há uma curva à entrada de Lagos, que me fascina.
Hoje é quase só uma curva, com os paralelepípedos soterrados pelo asfalto, como acabará por suceder às pequenas casas que a ladeiam.
Dentro em breve, as laranjeiras e as buganvílias juntar-se-ão ao património arqueológico.
E duvido que a curva subsista às urgências rectilíneas do trânsito.
Eu descobria o Algarve, e a rusticidade e aspereza da minha pronúncia soletrava a doçura dos nomes revelados pelos faróis:
Aljezur, Bensafrim.
E adivinhava figos e mel, cúmplices com a alfarroba e as estevas.
Sempre que posso - e a ansiedade não me condiciona o prazer da ida, ou a inevitabilidade do regresso - percorro a mesma estrada litoral, assistindo à agonia das placas de trânsito de azulejo, onde ainda é possível ler Odesseixe e distâncias entretanto desactualizadas pelo progresso.
Fiel, a minha curva à entrada de Lagos aguarda-me para me franquear a vastidão do horizonte.
Os mistérios do Sul.
Seja qual for a hora, do dia ou da noite, ou a época do ano, a curva prevalece como fiel guardiã.
Um livro que se abre à ida, ou fecha no regresso.

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