15 de outubro de 2013

Nem sempre a lápis (442)

Memória descritiva
Azeite
Uma vez, deparou-se-me uma rua que dava pelo nome de Goutte d’Or.
Nunca procurei decifrar o ofício escondido pela metáfora, e duvido que o azeite, o mel ou o ouro, ainda gotejem nas ruas de Paris.
A Bretanha ficava longe, no sonho, e eu precisaria de muitos anos, e outra tanta vida, para aceitar as coisas como são.
Sem dar por ela, a rua perseguia-me.
Desse as voltas que desse, a Goutte d’Or esperava-me como uma nódoa.
A marca de um sinal.
Passaram-se anos, e ao temperar a comida, ainda hoje sou assaltado pela magia desse gesto que me liga àquele fio de ouro.
Quando me predisponho à vagabundice, à preguiça, deixo que esse fio me ligue a uma salada em Asilah.
Ou às tibornas da Beira e aos potes do Algoz.
E consinto que a nódoa me marque como um sinal de fogo oculto.

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