«Miss Nita Starling era uma inglesa pequenina e ágil, com cabelo branco cortado curto, pulsos delgados e uma expressão decidida no rosto. Os donos da estância tinham-na convidado para tratar do jardim e agora não queriam que ela se fosse embora. Trabalhando quer fizesse chuva ou sol, arranjou novos canteiros e construiu um jardim de rochas. Tinha também arranjado as ervas daninhas à volta dos morangueiros e, graças aos seus cuidados, um terreno inculto fora transformado num relvado.
- Sempre quis jardinar na Terra do Fogo – disse-me na manhã seguinte com a chuva a escorrer-lhe pela cara abaixo – e agora já posso dizer que o fiz.
Nos tempos de rapariga, Miss Starling havia sido fotógrafa, mais tarde ficou com raiva às máquinas fotográficas. – Dão de toda a alegria – disse. Trabalhou depois como horticultora num reputado viveiro de plantas do Sul de Inglaterra. Interessava-se muito particularmente pelos arbustos de flores, pois estes tinham-na ajudado a escapar a uma vida insípida, passada a tratar de uma mãe enferma. Sentia pena deles, plantados artificialmente em canteiros ou em vasos cobertos por uma redoma de vidro. Preferia imaginá-los a crescerem livremente nas montanhas e florestas, e, em sonhos, viajava pelas regiões inscritas nas etiquetas.
Quando a mãe de Miss Starling morreu, ela vendeu a casa e a mobília. Comprou uma mala de viagem ligeira e desembaraçou-se da roupa que nunca usaria. Fez a mala e andou às voltas pela vizinhança a ver se era muito pesada. Miss Starling não confiava nos bagageiros. Decidiu, por fim, levar consigo um vestido de noite.
- Nunca se sabe onde se vai parar – disse.»
[Bruce Chatwin, Na Patagónia; trad. José Luís Luna, Quetzal, Novembro 1998]
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