«As alterações impostas à força na língua são concretizadas de forma muito mais subtil e gradual, através do uso deliberadamente erróneo de certas palavras desprovidas do seu sentido radical e também através do artifício dos slogans ao modo publicitário e da utilização inteligente de trocadilhos e segundos sentidos. Deste modo, a linguagem literária (ambígua, aberta, complexa, infinitamente passível de enriquecimento) pode ser suplantada pela da publicidade (breve, categórica, imperiosa, final), de forma que acabem por ser dadas respostas em vez de serem formuladas perguntas e a gratificação instantânea e superficial assuma o lugar da dificuldade e da profundidade.
Não são apenas os slogans publicitários e o discurso oficial que vão beber a este uso distorcido da língua. Há também um tipo de literatura que pode ser criado a partir deste vocabulário castrado – é fácil aos leitores e aos escritores serem seduzidos pela sua estética cómoda. Embora o efeito intrínseco de tal obra seja político, o seu objectivo ostensivo é simplesmente divertir: um “produto cultural”, como começou a ser chamado no século XX. O estado actual da indústria livreira é sintomático dos efeitos desta forma subtil de censura.»
[Alberto Manguel, A Cidade das Palavras; trad. Maria de Fátima Carmo, Gradiva, Junho 2011;
vocabulário]
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