22 de março de 2012

Papiro do dia (200)




«Sim, no mostrador branco, 10 segundos pretos para o Mensageiro; para o Director. Mas tanto na carne de um como na cabeça do outro não se apelidaram segundos nem se contabilizaram 10. A dor não é cronometrável; nem comunicável. Aqueles dois não tinham sofrido com o relógio. Sofreram, talvez, de um outro tempo, de uma outra dor-de-vida, que se situa algures: na eternidade? E a ofensa da dor não foi proporcional à distância percorrida pelo indicador mecânico. Aqueles insignificantes 10 segundos pretos camuflaram quilómetros de horas de uma dor privada.
O tempo e a dor não são cordiais; são insolentes.
Quando se encontram na cabeça ou na carne dos homens, não costumam olhar-se nos olhos, nem sequer dar as mãos para um passou-bem.»
[Sandro William Junqueira, Um Piano Para Cavalos Altos; Caminho, Dezembro 2011]

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