«Os corpos tinham inchado com o calor e o cheiro era nauseabundo. A minha mãe mandou-me para o meu quarto para eu não os ver. Depois, o oficial cortou-lhes as cabeças e subiu as escadas transportando-as pelos cabelos. E pediu álcool à minha mãe para as poder conservar. Está a perceber, esta agência em Nova Iorque pagava cinco mil dólares por cada cabeça. a polícia queria enviar as cabeças para receber o dinheiro. O meu pai encolerizou-se e obrigou-os a restituir as cabeças e os corpos para ele os enterrar.
A tempestade abrandava. Colunas de água cinzenta abatiam-se no outro lado do vale. A todo o comprimento do pomar de maçãs, alinhavam-se flores de tremoços azuis. Onde quer que fosse que residissem alemães havia sempre flores de tremoços azuis.
Perto do curral, uma cruz tosca de madeira erguia-se sobre um pequeno túmulo. As hastes curvas de uma roseira das pampas floresciam da terra como se tivessem sido fertilizadas pelos corpos ali enterrados. Fiquei a olhar para um falcão cinzento que planava no céu, para a ondulação da erva varrida pelo vento e para a massa de nuvens carmim no horizonte.
O velhote saiu e veio pôr-se ao meu lado.
- Ninguém lançaria uma bomba na Patagónia – disse.»
[Bruce Chatwin, Na Patagónia; trad. José Luís Luna, Quetzal, Novembro 1998;
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