15 de maio de 2012

Nem sempre a lápis (279)

A casa de ninguém


1. O cavalheiro recuou dois passos para voltar a ver-se no reflexo da vitrina. Ajeitou ligeiramente a cabeça, satisfeito. Sentia-se favorecido por aquela posição. Nunca de perfil; sempre de viés, apenas visível a arcada da sobrancelha esquerda. Habituou-se a ver-se assim, captado nas fotos que se seguiram à infância. A partir daí, só concedia o lado direito para memória futura. Guardava, oculto, o outro lado do rosto. E a música assomava-lhe aos lábios, irrevogável.

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