15 de maio de 2012

Papiro do dia (219)

«Quando somos novos, toda a gente com mais de trinta anos parece de meia-idade, toda a gente com mais de cinquenta é antiga. E o tempo, à medida que passa, confirma que não estávamos assim tão enganados. Esses pequenos diferenciais etários, tão cruciais e flagrantes quando somos mais novos, desfazem-se. Acabamos por pertencer todos à mesma categoria, a dos não jovens. Nunca me importei muito com isso.
Mas há excepções à regra. Para algumas pessoas, os diferenciais de tempo irrefutáveis na juventude nunca desaparecem realmente: o idoso permanece idoso, mesmo quando são os dois velhotes e se babam. Para algumas pessoas um intervalo de, digamos, cinco meses significa que, perversamente, se verão sempre como mais sábios e mais bem informados do que o outro, por mais que o contrário seja evidente. Ou talvez porque o contrário é evidente. Porque é perfeitamente claro para qualquer observador imparcial que o equilíbrio se deslocou para a pessoa ligeiramente mais nova, a outra mantém a pretensão de superioridade ainda com mais rigor. Ainda mais neuroticamente.»
[Julian Barnes, O Sentido do Fim; trad. Helena Cardoso, Quetzal 2011;
porque]

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