«- Está a ver, comandante, como discordamos nisto: você não dá valor à insegurança e eu não tenho grande opinião da segurança: quanto mais pequenas forem as nossas probabilidades aos seus olhos, mais estarei disposto a apostar nelas. Até certas experiências o demonstram. Uma vez tive um contrabandista entre os meus clientes, um homem que continuou a exercer a sua profissão perigosa mesmo durante a guerra; e então procurava atravessar a fronteira sempre nos pontos da frente onde o fogo era mais intenso. Escapou sempre, enquanto o companheiro, que escolhia os pontos mais sossegados, foi morto a tiro por uma sentinela nervosa. Creio que nos entendemos como sempre, e agora suponho que você não está à espera de que vamos desistir de uma probabilidade cujo valor está justamente em ser tão pequena. Espero que mande consertar o seu barco imediatamente e que o ponha à nossa disposição.
Freytag tirou o cigarro apagado da boca, esmagou-o e triturou-o entre os dedos e depois perguntou:
- Foi advogado?
- Sou advogado entre outras coisas – disse o doutor Caspary e fez uma estranha e irónica vénia para Freytag.»
[Siegfried Lenz, O Barco-Farol; trad. Inês Madeira de Andrade, Fragmentos, Setembro 1987;
Sem comentários:
Enviar um comentário