Nem Sempre a Lápis poderá vir a ser um bom título, parece-me, para um livro que paira entre o que aqui vou anotando. Não tenho alinhado duas palavras fora deste contexto, sem o compromisso do dia-a-dia. Ao rever os meses anteriores, sobretudo os deste ano e alguns do final de primeiro ano, apercebo-me de uma fiada subtil puxada no tecido; uma ânsia de autonomia, justificada. Ao rever o ano passado, verifico também que me espalhei na mais perigosa das tentações; escrever para o leitor, subvertendo a vocação particular do Diário, do diálogo sem interlocutor. Sempre que abro a gaveta pendurada na parede ao lado da cabeceira da cama, liberto um cheiro a cânfora, muito antigo. O fascínio da solidão reside também nestas pequenas coisas, insignificantes, anotadas sobre os poemas de Rumi; não comprei um livro, comprei um atril para escrever na cama, a lápis.
Este bloco acabou no Sul; durou um ano e uns trocos, poucos. Afeiçoei-me a ele; é à medida de qualquer bolso, não das calças, serve para guardar o BI, facturas, vales da fnac, lembranças. Contrariando o meu hábito, não arranquei mas risquei as folhas passadas a limpo, mantendo intacta a dimensão portátil e a vocação de secretária shandy; sem elástico. Vou conservá-lo bem manuseado e concluído, como um álbum de instantâneos para decifrar lugares; vou procurar uma fita nova para a máquina – Olympia – nas casas da especialidade. O caderno azul é demasiado hirto, não assenta bem em qualquer bolso.
Sem comentários:
Enviar um comentário