Fiz a estrada da costa até São Torpes para apalpar o movimento de auto-caravanas estacionadas, sem me apetecer parar e caminhar pela praia. Pensava ir ao ferro velho da Carregueira, mas estava fechado; adio a compra do garrafão com a da aviadora. Saí da via rápida e atalhei pelo pinhal quando vi os toldos de uma feira em Santo André, por não «ser dia» no cruzamento das Brunheiras. Perguntei o preço de dois produtos têxteis e desentorpeci as pernas, sempre de largo pelas bancas de botas e jeans dos malteses. Entrado em casa, se ontem tivesse optado por seguir perpendicular ao mar, em vez de procurá-lo, pelos quilómetros a esta hora estava a chegar a Madrid; regressar é sempre uma chatice. Adormeci e acordei sem ver nem ouvir gaivotas, ocorre-me agora, com o travo amargo da mistura de café esquecida. (Concerto in c menor, BWV 1060: Allegro, J. S. Bach)
19 de abril de 2010
Nem sempre a lápis (4)
Como ficava em caminho e o vi ao balcão, desta vez parei em Lagoa para me moer a mistura de café que gastava. A Loja do Burro ainda estava fechada, privando-me de ir à cata de roupa em segundo corpo; não me chamou a atenção a Vet contígua, de que fui cliente. Lembrei-me mais tarde, talvez quando percebi que não fiz «a curva à entrada de Lagos» (Longe do Mundo), por onde saí do Sul rumo a Aljezur. Considerei a da Amoreira, mas afastei-me quando vi uma placa a indicar Azenha do Mar, esgotada a adivinha de perguntar o caminho. Vim pelo atalho da Zambujeira e do Cabo Sardão, sem o ver nem a Entrada das Barcas, aproximando-me de Mil Fontes sem dar pela vila; esperava-me uma barroca a vomitar água barrenta no mar. À entrada da ponte de Odeceixe, para quem vinha do Sul, as derrocadas de xisto condicionaram o trânsito a uma via única comum aos que vinham do Norte; entreolhavam-se a meio. Apesar de ter prioridade, abrandei no cruzamento – não viesse algum distraído do lado da ilha do Pessegueiro – e entrei em Porto Covo a salivar por uma sopa, refastelado ao sol na esplanada do Marquês. O prato do dia amanhã, quinta-feira, é bochechas de porco preto. Enquanto comia a sopa e fazia festas aos gatos – há mais gatos em Porto Covo do que cães em Armação de Pêra –, ainda me senti tentado a não as deixar fugir e ir descansar para o apartamento número doze; deitado à lareira, com as portadas abertas para o Sol entrar. Se pudesse, ficava lá até sexta e fazia o fim-de-semana ao contrário, mas não tinha um único livro comigo.
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