18 de junho de 2010

À mão de ler (36)

«O mais bonito é que não há solução para este problema do destino, dizia para mim, porque podemos ver a vida como se já tivesse sido escrita por alguém em qualquer parte, ou então podemos vê-la como se fosse escrita por nós a cada momento que passa. Ambas as versões são válidas. Cada decisão pode ser vista como tendo sido tomada por nós com base numa livre escolha ou então porque já estávamos predestinados a tomá-la.

Pois não será esse o sentido da profecia de Édipo, que tanto influenciou a nossa cultura? Um adivinho disse a Laio: "O teu filho matar-te-á e tornar-se-á amante da própria mãe". Para evitar isso, Laio afasta Édipo, manda-o para longe. Só isso torna possível que Édipo, quando regressa, não sabendo que Laio é seu pai, o mate, e não sabendo que Jocasta é sua mãe, se torne seu amante. Se Laio não tivesse feito caso da profecia, nada disso teria acontecido; a profecia realiza-se justamente porque Laio a leva a sério e tenta evitar as suas consequências. Portanto, o destino é inevitável e a profecia faz parte dele. A profecia serve para fazer com que aconteça aquilo que os homens, de sua livre vontade, não deixariam que acontecesse. Os gregos! Os gregos já tinham percebido tudo e dito tudo, cinco séculos antes de Cristo, enquanto nós, hoje, temos de reinventar e de redescobrir tudo.»
[Tiziano Terzani, Disse-me Um Adivinho; trad. Margarida Periquito, Tinta-da-China, Novembro 2009;
ilustração: Chirico, Édipo e a Esfinge]

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