16 de junho de 2010

Nem sempre a lápis (39)

Fiz a viagem até à casa de ninguém sempre de frente para o que ainda sobra do sol da noite; nas rectas vazias do Baixo por pouco não baixei a pala do vidro, mas contive-me. Vou apanhá-lo sob o formato quarto minguante virado do avesso, no outro lado. São quatro e tal da manhã; correspondência em dia no blogue em pausa e tréguas na outra. Confortavelmente jantado na Europa, ou seja em Campo de Ourique, a verdade é que ontem ainda revi o conto O Cavalo Perdido de Hernández e trouxe os que faltam; a ter de ser, nada como a noite para viajar em auto-estrada. Saí da carrinha recebido pela alegria das gaivotas e o silêncio do prédio, quebrado à medida que subia dois andares de memória; sem ser de cor. Abri as persianas e janelas antes de ligar a luz e a água, depois fui pendurando a roupa nas costas das cadeiras, fiz uma biblioteca na estante estilo nórdico – família reduzida a três cadeiras e uma mesa circular com pernas cuneiformes – para a habitar com os livros em viagem: Disse-me Um Adivinho e os diários IV e V de Torga. Estou morto por lhe abrir os cadernos numa esplanada de Asilah e ser um beirão a ler um trasmontano entre o azenegue do Gharb; deitado ao sol na açoteia do Pátio de La Luna a salivar pelos livros que me esperam em Tânger e Sevilha, no regresso. Exceptuando ter-me esquecido de trazer água, até agora ainda não dei pela falta de nada; só de fazer a cama com uma pequeno ramo de madressilva, cortado com a unha do polegar onde a há. O estoiro não lhe serviu de lição: o safado do meu filho tem outra moto linda de se morrer; bem me fartei de olhar para ela, a alçar a perna direita com resultados de cão e medo que me caísse em cima. Ainda bem que não me viu naquelas figuras às três e tal da manhã; sai ao pai, nas motas também.

Sem comentários: