19 de junho de 2010

Nem sempre a lápis (42)

O fim do modelo da Trama não me surpreendeu; pressenti-o um sábado à tarde depois de umas breves férias de Agosto, vazia. A Trama foi uma moda para quem a enchia pelas costuras, uma carta de recomendação para outros, uma dádiva curricular para alguns; sem dúvida. Pouco a pouco, começaram a ficar os que mesmo com a compra diária de um livro, dificilmente o poderiam fazer por muito mais tempo. Também eu reconheço que comecei a postergar o pretexto de «descafezar» aos sábados, integrando a passagem por lá no roteiro dos dias em que tinha fortes motivos para ir a Lisboa; nomeadamente esse, as quintas-feiras. Habituei-me a retomar uma topografia mental esquecida, iniciada com descida nas Amoreiras e passagem pelo jardim, até chegar ao entroncamento da São Francisco Sales, onde vivi num quarto, com a São Felipe Nery, onde fiz a minha última instalação na Diferença, para me entregar à calorosa actualização dos espaços da memória. Assisto diariamente ao entusiasmo das descobertas que partilham no blogue; outras descobri, pelas mãos deles. Cometeram erros? Felizmente. Voaram alto de mais? Melhor ainda. O projecto continua vivo? É o que interessa. Estou mortinho por ir à festa de encerramento com a mesma alegria e disponibilidade a que assisti a grandes noitadas.
Desconheço se já têm um espaço para o segundo fôlego ou segunda edição da Livraria Trama, possivelmente de bolso. Venha ela e, se possível, com passeio para pôr duas ou três mesas – não era também na rua que se passavam muitas das noites do anterior modelo? – para se ler, beber um café, conversar, o Ricardo ir buscar o clarinete e desatar a tocar, aparecer o Nuno Moura e começar a ler uns poemas, um autor apresentar o livro na rua, por exemplo e sei lá que mais; assim o permita o tempo e o relacionamento cultural com as autoridades. Livrarias de portas adentro são todas, com pátio interior há algumas, poucas mas há, sem que lhes reconheça outra utilidade além de gueto para fumadores. Uma livraria, maneirinha, bem arrumada e catita, com passeio para fingir uma esplanada, era ouro sobre azul encadernado; pensem nisso.

2 comentários:

noni disse...

Duas ou três mesas apenas transformariam a pacífica esplanada num ringue de boxe ensanguentado, aposto...

ND disse...

"A Trama foi uma moda para quem a enchia pelas costuras, uma carta de recomendação para outros, uma dádiva curricular para alguns; sem dúvida."

Acabaste de me fazer entender porque raio eu fui, cada vez mais, me sentindo agastada com as pessoas vibrantes. :-)