«Madame Corine (Pilar Mengual, fora do trabalho) olhou para a mulher e os seus dois acompanhantes com os olhos inquietos. Não distinguiu o rosto da senhora porque levava um véu escuro que lhe cobria as feições.
– Estão conscientes de que se aceito, perderei um cliente?
– Estou-me nas tintas para os seus problemas laborais – disse, pálido, o advogado Gasull enquanto depositava um pouco de cinza no pires.
– Mas eu, não. – Levantando a voz –: Mas o senhor julga que…?
– Se se recusar – interrompeu-a Gasull com suavidade, sem a olhar nos olhos e dando uma fumaça –, só avisaremos a polícia, dizemos-lhe que El Nidito existe, apesar das proibições explícitas do Caudilho, e damos-lhe a direcção. Provavelmente, a primeira coisa que irão fazer será mandar-lhe um pelotão de falangistas indignados para que destruam tudo, e só depois chegará a polícia demasiado tarde e, quando aqui estiverem, contamos-lhes o se passou no Natal com aquela rapariga galega. – Tirou um fio de tabaco e sorriu para a madama –: É a nossa contraproposta.
A madama, pálida de raiva, levantou-se, dirigiu-se a um pequeno armário, abriu a porta com uma chave que tinha com ela e tirou outra chave. Brilhava uma etiqueta com o número quinze e o coração de Elisenda deu-lhe um baque.
– Segundo andar. – Gasull quase lha arrancou dos dedos –. E por amor de Deus, não façam barulho.
O homem gordo piscou o olho choroso de modo quase imperceptível à senhora do rosto velado e os três abandonaram a sala do Nidito rumo à escada que conduzia ao segundo andar.
– Estou-me a cagar para as senhoras que são mais putas do que as putas – resmungou a madama, enquanto os convidados abandonavam a sala. Pararam os três de repente.
– O que é que disse? – perguntou o homem gordo com um tom de ameaça bem forte.
– Também me vão proibir de barafustar? – A madama tinha levantado a voz, sem se intimidar.
– Deixem-na – ordenou a senhora Elisenda dirigindo-se para a escada. Os dois homens seguiram-na, depois de olharem para a madame Corine com o pior olhar que tinham no catálogo.»
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