17 de abril de 2011

Nem sempre a lápis (152)

Acabou-se a lapiseira Novotel azul, equipada com uma providencial borracha laranja na extremidade, que trouxe da Póvoa de Varzim em 2004. Aproveitei a oportunidade para apagar um pequeno quadro com uma pena e outras simbologias que não recordo, mas comprovava a minha presença dois anos antes. Os tais objectos, rastos curriculares. Em breve me desprenderei de outro, onde se dá conta de que li ao desafio com o Miguel Manso, uma tal 5.ª feira na Trama. Estranhei não atenderem o telefone e fui confirmar no blogue se o número estava actualizado. É possível que esteja, mas desapareceu das formas de contacto com os livreiros. Mandei um e-mail, como se faz neste tipo de circunstâncias, e até hoje, nada. Ora, eu tinha lido o desapontamento de manuel a. domingos pela interrupção no circuito literário por ruas da Capital e, como dois mais dois são quatro, quando vi a porta fechada e perguntei na modista ao lado, teve a amabilidade de informar: Às vezes fecham às segundas, mas hoje ainda não vi ninguém. Reparei que a famigerada cortina de ferro estava subida, no vidro da porta nada constava, e visível na montra, só o abandono. Mudei de passeio e entrei na Galeria Diferença para ver a exposição recomendada pela minha curadora Ana Vidigal (repus aqui o YouTube para uma pequena sessão), mas deparei-me com a porta fechada e a nota «Montagem de exposição, é favor tocar a campainha». Encontrei-me sentado no sofá da Loja de História Natural, à conversa com o Pedro Eiras – estagiário e guarda-nocturno na noite em que a Trama acabou; ponto final –, sobre alojamento para alugar no triângulo compreendido entre o Rato, a Estrela e o Príncipe Real. Admito um desvio para as Avenidas Novas; mas mais, não. Esperei pelo Luis Manuel Gaspar sentado à mesa da primeira esplanada de quem vem do Rato; nunca na outra, tinha bomba de gasolina e tem colunáveis locais. O quiosque de bebidas passou a substituir a árvore e o banco, onde vivi um momento satori, há coisa de 37 anos, confirmado bastante mais tarde por John Berger em Aqui nos vemos. Desde que desci nas Amoreiras e percorri o caminho até esse ancoradouro, fiz os possíveis por desligar e ouvir tudo o que a cidade segreda, vocifera, empurra, apita, ao passeante, ao estorvo à circulação. Não gostei, sejamos francos. Assusta-me a perspectiva de não precisar de ir a Lisboa, de perder o prazer de preparar a deslocação, de autocarro ou de carro, de me perder. Enquanto esperava pelo Luís, ensaiei uma possível atitude de residente e deu-se esta situação deliciosa: fingindo-se alheio, o meu ex-colega de rádio e agora actor, olhava-me pelo canto do olho, que o evitava, indiferente às cotoveladas de quem o reconhecia sem dar por mim, mas eu e ele conhecendo-nos de amarga ginjeira. O Luís chegou e tive na mão os desenhos que fez para Nem sempre a lápis. Conversámos e fez-se tarde. Liguei ao Miguel Martins, mas não estava na Poesia Incompleta, onde o ilustrador ia deixar os desenhos. Melhor assim, enquanto o editor entrega o material à Inês Mateus, a paginadora, tenho pretexto para sábado à noite ir até ao Bartleby e à ZDB. Pedi ao Luis que aceitasse e apresentasse as desculpas da minha caixa torácica por não o acompanhar e cumprimentar o Changuito, e retomei o caminho a pé até ao Marquês, para apanhar o autocarro. Se houver problema de espaço, anula-se um texto escrito a lápis; é preferível um desenho a tinta-da-china.

4 comentários:

luis manuel gaspar disse...

:)
um abraço

manuel a. domingos disse...

da próxima vez que eu for à capital tenho que combinar um café com o Jorge.

abraço

fallorca disse...

É simples, deixa contacto: modero e mando sms para ficares com o meu.
Abraço (esticado até ao de cima) :)

Marta disse...

tão bom andar por aqui com tempo a ler tudo :)